Festa de Sant’Ana em Serra Branca: 300 Anos de Cultura e Tradição.

Reportagem: Rádio Liberdade 87,9FM de Porteirinha-MG.
Publicado em: 26/07/2022 às 11:40.
Última atualização: 26/07/2022 às 12:08.
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Rádio Liberdade FM - Festa de Sant'Ana em Serra Branca
Santa missa do trabalhador rural em Serra Branca. Fotografia: Geomárcio Silva.

Todos os anos, do dia 17 ao dia 26 de julho, feriado municipal, acontecem as festividades de Senhora Sant’Ana em Serra Branca, distrito de Porteirinha. Após dois anos de pandemia da COVID-19, o tradicional evento religioso e social, volta a ser realizado como antes. Este ano com o tema: “Trezentos anos de fé e devoção”, em alusão aos 300 anos da realização dos festejos.

Segundo dados do professor Carlos Santa Rita, publicados na revista “O Cruzeiro”, edição de 1970. A devoção à Sant’Ana, se deu através de uma senhora chamada Ana, conhecida por todos como Donana, que veio de Portugal por volta do século XVIII. Ana morava na Bahia, mas após a morte do seu marido, reuniu seus bens e se mudou para o norte de Minas, vindo à morar na planície do Rio Serra Branca, próximo à Porteirinha. Naquela época, Ana adoeceu, e fez uma promessa a senhora Sant’Ana, que se alcançasse a graça da cura, construiria a capela para que se venerasse a santa.

Entre os habitantes da região, muitas são as histórias repassadas de geração em geração, sobre a senhora abastarda, muito rica, proprietária de muitos escravos e posses de terras. Curada em 1722, Ana mandou levantar em seus domínios uma capela de pedra e cal, em honra à santa.

Conta-se, que a antiga igreja havia sido construída em 1722, esta data estava gravada na madeira do frontispício do altar da antiga capela de pedra. Em 1976, a igreja foi demolida, e uma nova foi construída no mesmo local. Esta seria a única igreja da região, onde no rústico altarzinho, a santa teria sido entronizada.

Além de construir a igreja, Donana doou uma grande quantidade de terras a Sant’Ana, terras estas que se estendiam de Serra Branca, até os arredores de Porteirinha (Terras de São Joaquim). Ao longo do tempo, muitos se apossearam dessas terras, mas ainda hoje, encontra-se referencia à elas, nos documentos mais antigos do Cartório de Registro de Imóveis.

Embora muito recuada no tempo, está a data de construção do Urubu, braço direito do Rio Serra Branca. Aberto por mãos escravas, a escavação tinha o objetivo de levar água para o crescente conglomerado de casas de barro batido, ao redor da igreja.

Segundo o Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do Brasil, originalmente publicado em 1845, pelo militar francês Milliet de Saint-Adolphe. No verbete Gorutuba, diz o seguinte: “Uma capela de invocação de Sant’Ana, na fazenda chamada Serra Branca, foi a largo tempo, a única igreja que havia no vasto território que pertencia a freguesia de Morrinhos. Aqueles moradores que residiam mais distante dela, erigiram sucessivamente a Igreja de São José do Pilar e de Santo Antônio. A Igreja de São José, por ser a mais central, recebeu o titulo de paróquia, por um decreto imperial de 14 de julho de 1832, ficando as mais distantes dela, como filiais.”

Apesar de não ser mencionada nos Evangelhos, Sant’Ana, mulher nazarena, pela tradição da Igreja Católica, seria a mãe da Virgem Maria e, portanto, avó materna de Jesus Cristo. Em uma bula, em 1584, o papa Gregório XIII instituiu que a festa seria comemorada no dia 26 de julho, mês que passou a ser denominado mês de Sant’Ana. Venerada como padroeira das mulheres casadas, especialmente das grávidas, cujos partos tornam-se rápidos e bem-sucedidos. Sant’Ana é também protetora das viúvas, dos navegantes e marceneiros.

Serra Branca, é uma das poucas comunidades que ainda se preservam as tradições das musicas cantadas durante os cortejos fúnebres. O local ainda serviu de inspiração para páginas do romance de João Guimarães Rosa, o Grande Sertão Veredas, e ficou conhecida nacionalmente, depois de ser cenário das gravações da minissérie global, que recebeu o nome e a história do livro, na década de 80. Na época, atores famosos como, Bruna Lombardi, Tarcísio Meira e Tony Ramos, estiveram no distrito para gravação de diversas cenas, inclusive, a do grande confronto, no final da trama.

A festividade que ganhou fama, prestigio e se tornou uma das mais importantes manifestações religiosas e culturais do norte de Minas, tem um grande pico de fiéis nos dias 25 e 26. No dia 25 a noite, é celebrada uma grande missa campal, em homenagem ao dia do trabalhador rural, além do levantamento da bandeira. Já no dia 26, a programação se inicia, desde as primeiras horas, e se estende por todo dia.

O evento recebe visitantes de todos os municípios da Serra Geral, e milhares de turistas de diversas regiões do país, criando uma característica única, e se tornando um ponto de encontro de pessoas. Em outros tempos, eram realizados casamentos e batizados coletivos, os noivos viajavam longas distâncias em carro de boi, carroças, charretes, e até mesmo a cavalo.

A Casa da Festa, recebe todas as famílias, e serve como ponto de apoio. Já na comunidade, as ruas ficam lotadas, são montadas dezenas de barraquinhas, durante os dias de festa.

Serra Branca dos que a conhecem, é uma das comunidades mais antigas de Porteirinha, é ponto de encontro e inicio da fé! Serra Branca é patrimônio dos porteirinhenses.

Festa de Sant’Ana em Serra Branca: 300 Anos de Cultura e Tradição.

Comentários

  1. Essa história narrada, confere com a história que meus pais me contaram há cerca de 80 anos. Portanto é verdadeira.

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